quarta-feira, 31 de agosto de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Verdade...


"The better I get to know men, the more I find myself loving dogs."Charles de Gaulle

P.S. Este é Boo e ele é de verdade !
 

domingo, 14 de agosto de 2011

Minha Querida Tia... Albertina

Tia Albertina foi daquelas tias que nunca se esquece. Doce, generosa, suave. A tia era gordinha e dizia que seu peito era um travesseirinho no qual eu podia me encostar e dormir. E eu dormia. Tia Albertina era gaúcha, de Porto Alegre, da Avenida Borges de Medeiros. Era modista, com ateliê e tudo. Costurava para as socialites da época, para as mulheres de políticos, para a primeira dama da capital. Tinha uma vida ótima quando conheceu tio Celso, o irmão da minha avó, que era cheio de manias. Eles se encontraram já mais tarde na vida, na fase mais madura. E se amavam demais, ao modo deles, mas se amavam muito. Vi tio Celso umas duas vezes na vida, mas a tia vinha todos os anos pra São Paulo, às vezes em duas ou três oportunidades. E eu esperava tanto por essas suas vindas... Ela era apaixonada por criança, especialmente por nós, os sobrinhos postiços. Nunca soube quem não podia ter filhos, não sei quais os motivos e não importa. Queria ser sua filha, na verdade. Pensava, na época, que ela bem que podia me adotar :). Ela costurava muito e pra todos nós, especialmente quando éramos pequenos. E bordava demais! Era uma coisa, nunca vi nada igual. Lembro de várias roupinhas e especialmente uma blusinha rosa de linha com ponto tricô, que ela bordou com flores e linhas de seda e pérolas maravilhosas. Pena que minha mãe não seja afeita a acumular e não pude manter essas preciosidades comigo. Mas a lembrança de seu cuidadoso ponto, de seu capricho estão aqui comigo. Lembro do perfume de Tia Albertina: Fleur de Rocaille, de Caron. Procurei muito por ele e só recentemente o encontrei na Sack’s, uma perfumaria online. Uma pena, mas aparentemente o perfume mudou um pouco; mesmo assim ainda lembra um pouquinho Tia Albertina. Meus vestidos de formatura foram feitos por ela, um branco e um rosa, claro que bordados. O som de sua voz e a sutileza de seus conselhos, a suavidade, a delicadeza. Ela comia como uma rainha e eu a imitava. Acho que meus modos hoje são fruto de minha imitação, de minha tia. E adorava viajar, rodava o mundo todo, mesmo e especialmente depois que tio Celso morreu. Tinha muitas amigas e com elas viveu o que sempre quis. Mesmo tarde na vida, não deixou de viajar, de fazer plástica, de se vestir bem. Era uma tremenda mulher. Eu a amava demais e ainda amo.
A vida foi nos afastando e a cada vez, a via menos. Já com muita idade, não viajava tanto. Sinto não ter me despedido; mesmo assim, não sinto que ela partiu. Ainda posso sentir seu peito fofinho, minha cabeça recostando nele e o sono vindo. Ouça-a me chamando de guria e dizendo que eu era atrevida, com uma gostosa gargalhada. E eu era mesmo!
Fico imaginando se meus sobrinhos e sobrinhas se lembrarão desta tia aqui com alguma saudade, nostálgicos como eu por essa minha Albertina tão especial. Difícil. Os tempos são outros e não consigo me dedicar a eles como ela se dedicou a nós. Mas bem que gostaria...


P.S. Aprendi a cortar azeitona no prato com ela, motivo de chacota até hoje !

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Uma parte de mim

Sou apaixonada por cinema, cinéfila. Acho que nasci assim. Lembro da primeira sessão e como começou essa minha paixão: nas matinês do Cine Guaru, na praia de Pitangueiras, Guarujá, litoral sul de São Paulo. Há uns anos atrás J, as férias de verão começavam em dezembro e iam até fevereiro, inteiros. Quer dizer, três meses na praia, com mãe e tia vivendo a maior tortura de suas vidas: agüentar os guris por 90 dias, barbarizando. Daí, tínhamos uma certa liberdade e até éramos incentivados a sair do ap, haha. Guarujá, nessa época, era uma ilha de tranqüilidade: muito pequenos, ficávamos na rua até altas horas. Ir ao cinema era uma das nossas atividades prediletas e a primeira sessão sozinha a gente nunca esquece: tinha uns 5 ou 6 anos e fui ver Branca de Neve de Walt Disney sem mãe ou pai para fiscalizar. A roupinha era de domingo: vestidinho azul feito pela doce Tia Albertina de Porto Alegre (vale outro post), meia ¾ e sapatinhos boneca brancos. Até bolsinha tinha. E lá fui eu, orgulhosa da vida, me sentindo uma mulher! Só depois descobri que minha mãe voltou, entrou e ficou vigiando escondida nós quatro. Meus primos e eu éramos como irmãos e por isso fazíamos tudo juntos. Resumindo, as cenas de Branca de Neve estão em minha memória há muitos e muitos anos. Com o tempo, o cinema foi se tornando um lugar no qual me sentia muito bem, em casa. E por pior que fosse o filme, sempre gostava da sensação de aconchego da sala, a poltrona confortável, muito maior do que meu corpo, do cheiro da pipoca e do drops Dulcora ou Chucola. Adorava ! Depois troquei as sessões de desenhos por toda a sequência de Trinity (ai!), uns westerns péssimos: Meu nome é Trinity, Ainda me chamo Trinity e por aí vai até a versão 6.0 do personagem de gosto duvidoso.
Aeroporto 75 assisti no Cine Comodoro (a melhor sala de cinema de São Paulo, haha). Com minha adolescência e a mudança para o Objetivo da Paulista, pude me dedicar às minhas “aulas” favoritas nas tardes que o dinheiro (contadinho) permitia: Barry Lyndon de Stanley Kubrick. E daí em diante, todos os filmes em cartaz: Laranja Mecânica, Taxi Driver, Poderoso Chefão; Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Reds e a lista não para. O que para é minha memória, pobre, tentando lembrar de todos os filmes assistidos e com quem. Ah, com quem é importante...
Hoje, revendo alguns dos filmes que me marcaram, especialmente na década de 80, fico imaginando o tremendo fracasso que seriam no mundo contemporâneo: tomadas longas e quase congeladas, intensos e intermináveis momentos de reflexão silenciosa. Os bons mesmos viraram clássicos como Era uma Vez na América, Blade Runner, Cinema Paradiso, Retratos da Vida, Muito Além do Jardim. E os temáticos como a Festa de Babette e Como Água para Chocolate, que me inspiraram na cozinha. Tinha uma predileção pelos chorosos e românticos como Uma Janela para o Céu, snifsnif, Em Algum Lugar no Passado (esse eu decorei); saía do cinema com meu nariz como um repolho, vermelho como um tomate! Mesmo assim, não deixei de assistir várias e várias vezes seguidas.
De uns anos para cá, ando mais seletiva e procuro assistir filmes com os quais me identifico ou quase: As Pontes de Madison me marcou profundamente. Fase de quase final de casamento e eu me sentindo a própria Francesca, com um Robert me esperando. Meryl Streep e Clint Eastwood, monstros! Aquela maçaneta da porta do carro era tudo o que eu também queria abrir. Como torci por ela e como sofri com ela, eu também sem coragem de saltar do carro e correr para a camionete do fotógrafo da National Geographic. Amor imenso. Outras películas, como as de Giuseppe Tornatore e Almodovar, me transformaram.
Transporto-me para as telas, vivendo o drama e vida de outros. Como psicóloga de formação, diria que tenho um problema sério e escondo meus sentimentos, bloqueando as emoções na vida real. Quem me conhece sabe que não bloqueio nada. Acho que o que sinto é além de uma simples fuga: é o prazer da arte, do trabalho de pesquisa e montagem. Saber que para produzir um filme o sujeito leva anos e anos de trabalho duro e sério. Tenho um pouco de inveja do quebra-cabeça que deve ser montar um filme do zero. Apesar de exaustivo, deve ser um trabalho fascinante.
E se fosse começar tudo outra vez, escolheria o cinema como carreira, seja como crítica, produtora, diretora. Não importa. O que importa é que o mundo da sétima arte entrou em minhas veias, lá longe, naquela matinê barulhenta na praia de Pitangueiras. E nunca mais saiu, tornou-se parte de mim...
P.S. "O cinema é um modo divino de contar a vida." (Federico Fellini)