quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Começar de Novo


Começar de novo
Ivan Lins

Começar de novo e contar comigo

Vai valer a pena ter amanhecido

Ter me rebelado, ter me debatido

Ter me machucado, ter sobrevivido

Ter virado a mesa, ter me conhecido

Ter virado o barco, ter me socorrido
Começar de novo e só contar comigo

Vai valer a pena ter amanhecido

Sem as tuas garras sempre tão seguras

Sem o teu fantasma, sem tua moldura

Sem tuas escoras, sem o teu domínio

Sem tuas esporas, sem o teu fascínio

Começar de novo e só contar comigo

Vai valer a pena já ter te esquecido

Começar de novo...

No início da década de 80, a Globo lançou uma das primeiras séries da TV brasileira, Malu Mulher, com Regina Duarte no papel principal, cuja música tema era Começar de Novo, de Ivan Lins. Contava a saga de uma mulher recém-separada, vivendo as agruras de um tempo preconceituoso, em um país machista, em plena ditadura militar. Saiba mais aqui. A série foi um sucesso absurdo e motivou toda uma geração de mulheres escravizadas por seus pares, pais, companheiros a pensar em liberdade. E como todo sucesso estrondoso, teve seu fim no auge. Bom pra relembrar...


Eu, que tinha uma semelhança física com Regina Duarte na época de Malu Mulher, me sentia a própria e muito embora ainda fosse muito jovem para um casamento ou separação, o seriado era meu programa favorito, não perdia um. Anos mais tarde, quando precisei passar por um divórcio, incorporei a Malu Mulher que existia dentro de mim e me libertei de toda infelicidade de um tempo.


E como toda ruptura, esse momento me fortaleceu e me transformou. Percebi que era capaz de muito mais. Também percebi que não eram as pessoas que não olhavam pra mim, era eu que não levantava minha cabeça para vê-las. E ao encarar a vida com os olhos e a vontade renovadas, descobri que todo sofrimento tem data e hora pra terminar. E que apesar de dar trabalho, viver bem é a cura para todos os males.


Fiz as pazes com a vida e a alegria me encontrou. E não tenho medo de começar de novo. Porque vale a pena, vale muito a pena.

P.S. Um beijo aos meus amigos e amigas de jornada. Força, a vida é um eterno recomeçar!

sábado, 19 de novembro de 2011

De repente

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes


Peguei emprestado o Soneto da Separação do “Poetinha” porque nada mais caberia aqui do que um ‘de repente’, uma separação. Se você busca ler algo leve e divertido, saia daqui agora. Não é sobre o amor ou a diversão que preciso falar. Preciso colocar pra fora essa angústia que me cercou e me tira o sono e me dói o peito. Essa separação de mentes, de alma, de suor diário, de dever cumprido.

De repente, tudo aquilo que você tem de mais sólido vira ruína, cai como uma implosão, desmorona. Uma sensação de fracasso, de decepção vira rotina. De repente, seu dia não é mais o que tem sido e tudo o que você constrói vira pó, areia que você não consegue segurar entre as mãos, esvai-se entre dedos. De repente, tudo o que você acredita, não existe mais e o que fica é um gosto amargo de derrota.

De repente, seu dia tem 48 horas e não mais 12 e o relógio bate e não sai do lugar. De repente, andar pelas ruas e prestar atenção às pessoas e lugares é uma distração e não mais uma necessidade de correr contra o tempo. De repente, preciso lembrar de respirar, o que antes era automático. 

Mas isso tudo não me derrota, já superei o inimaginável e sai fortalecida. Não é qualquer vento que me quebra, que me derruba. Sou galho verde, que enverga mas volta ao lugar, mais forte do que nunca. Vai precisar muito mais, mas muito mesmo pra tirar minha vontade de viver, de felicidade e de alegria.

De repente, eu volto, não mais que de repente...