segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Uma parte de mim

Sou apaixonada por cinema, cinéfila. Acho que nasci assim. Lembro da primeira sessão e como começou essa minha paixão: nas matinês do Cine Guaru, na praia de Pitangueiras, Guarujá, litoral sul de São Paulo. Há uns anos atrás J, as férias de verão começavam em dezembro e iam até fevereiro, inteiros. Quer dizer, três meses na praia, com mãe e tia vivendo a maior tortura de suas vidas: agüentar os guris por 90 dias, barbarizando. Daí, tínhamos uma certa liberdade e até éramos incentivados a sair do ap, haha. Guarujá, nessa época, era uma ilha de tranqüilidade: muito pequenos, ficávamos na rua até altas horas. Ir ao cinema era uma das nossas atividades prediletas e a primeira sessão sozinha a gente nunca esquece: tinha uns 5 ou 6 anos e fui ver Branca de Neve de Walt Disney sem mãe ou pai para fiscalizar. A roupinha era de domingo: vestidinho azul feito pela doce Tia Albertina de Porto Alegre (vale outro post), meia ¾ e sapatinhos boneca brancos. Até bolsinha tinha. E lá fui eu, orgulhosa da vida, me sentindo uma mulher! Só depois descobri que minha mãe voltou, entrou e ficou vigiando escondida nós quatro. Meus primos e eu éramos como irmãos e por isso fazíamos tudo juntos. Resumindo, as cenas de Branca de Neve estão em minha memória há muitos e muitos anos. Com o tempo, o cinema foi se tornando um lugar no qual me sentia muito bem, em casa. E por pior que fosse o filme, sempre gostava da sensação de aconchego da sala, a poltrona confortável, muito maior do que meu corpo, do cheiro da pipoca e do drops Dulcora ou Chucola. Adorava ! Depois troquei as sessões de desenhos por toda a sequência de Trinity (ai!), uns westerns péssimos: Meu nome é Trinity, Ainda me chamo Trinity e por aí vai até a versão 6.0 do personagem de gosto duvidoso.
Aeroporto 75 assisti no Cine Comodoro (a melhor sala de cinema de São Paulo, haha). Com minha adolescência e a mudança para o Objetivo da Paulista, pude me dedicar às minhas “aulas” favoritas nas tardes que o dinheiro (contadinho) permitia: Barry Lyndon de Stanley Kubrick. E daí em diante, todos os filmes em cartaz: Laranja Mecânica, Taxi Driver, Poderoso Chefão; Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Reds e a lista não para. O que para é minha memória, pobre, tentando lembrar de todos os filmes assistidos e com quem. Ah, com quem é importante...
Hoje, revendo alguns dos filmes que me marcaram, especialmente na década de 80, fico imaginando o tremendo fracasso que seriam no mundo contemporâneo: tomadas longas e quase congeladas, intensos e intermináveis momentos de reflexão silenciosa. Os bons mesmos viraram clássicos como Era uma Vez na América, Blade Runner, Cinema Paradiso, Retratos da Vida, Muito Além do Jardim. E os temáticos como a Festa de Babette e Como Água para Chocolate, que me inspiraram na cozinha. Tinha uma predileção pelos chorosos e românticos como Uma Janela para o Céu, snifsnif, Em Algum Lugar no Passado (esse eu decorei); saía do cinema com meu nariz como um repolho, vermelho como um tomate! Mesmo assim, não deixei de assistir várias e várias vezes seguidas.
De uns anos para cá, ando mais seletiva e procuro assistir filmes com os quais me identifico ou quase: As Pontes de Madison me marcou profundamente. Fase de quase final de casamento e eu me sentindo a própria Francesca, com um Robert me esperando. Meryl Streep e Clint Eastwood, monstros! Aquela maçaneta da porta do carro era tudo o que eu também queria abrir. Como torci por ela e como sofri com ela, eu também sem coragem de saltar do carro e correr para a camionete do fotógrafo da National Geographic. Amor imenso. Outras películas, como as de Giuseppe Tornatore e Almodovar, me transformaram.
Transporto-me para as telas, vivendo o drama e vida de outros. Como psicóloga de formação, diria que tenho um problema sério e escondo meus sentimentos, bloqueando as emoções na vida real. Quem me conhece sabe que não bloqueio nada. Acho que o que sinto é além de uma simples fuga: é o prazer da arte, do trabalho de pesquisa e montagem. Saber que para produzir um filme o sujeito leva anos e anos de trabalho duro e sério. Tenho um pouco de inveja do quebra-cabeça que deve ser montar um filme do zero. Apesar de exaustivo, deve ser um trabalho fascinante.
E se fosse começar tudo outra vez, escolheria o cinema como carreira, seja como crítica, produtora, diretora. Não importa. O que importa é que o mundo da sétima arte entrou em minhas veias, lá longe, naquela matinê barulhenta na praia de Pitangueiras. E nunca mais saiu, tornou-se parte de mim...
P.S. "O cinema é um modo divino de contar a vida." (Federico Fellini)

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