domingo, 23 de outubro de 2011

O poder do abraço

Tudo que você pensa e sofre 
dentro de um abraço se dissolve…
Martha Medeiros


Dias atrás meu marido foi hospitalizado e sofreu uma cirurgia não programada. O médico dele estava em Nova Iorque e pediu para que um médico de sua equipe o atendesse. Depois da cirurgia, ele quis conversar comigo no centro cirúrgico. Cheguei, ele apertou minha mão forte, meio que me puxando. Resisti, não sei ao certo por qual razão. Quando terminou de falar comigo, me deu um abraço. Sai emocionada. No dia seguinte, já no quarto, ele chega e me dá o maior abraço do mundo,  tão carinhoso, tão forte, que me marcou. Pensei em todos os abraços que já dei e naqueles que ficaram no meu coração, como uma marca...

Adoro abraços! Mais do que qualquer outra coisa, amo abraçar e ser abraçada! Gosto tanto que até mesmo a cena mais marcante dentre todos os muitos filmes que já assisti – e foram muitos – é de um abraço, em Reds com Diane Keaton e Warren Beatty.

Abraço apertado, emocionado, abraço que envolve todo o corpo, abraço demorado, sentido, forte, esperado. Abraço de urso, que quase quebra ao meio. Abraço sem querer, meio sem graça, que se quer se desvencilhar. Abraço de amor, de amizade, de filho, de irmã e de pai.

Mais íntimo que beijo, mais gostoso do que tudo é um abraço bem dado. Abraço inesquecível, que mesmo depois de separado, continua sentido, amado.

Cazuza dizia que a definição de abraço que ele mais gostava era que o abraço é o encontro de dois corações. É isso, dois corações unidos, juntos, que se encontram, se aquecem, se confortam.

Simples e único. Esse, afinal, é o poder de dar e receber um bom e carinhoso abraço...
P.S. "Me abrace, que no abraço mais do que em palavras, as pessoas se gostam."
Clarice Lispector

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Clara clareou

Embora eu não seja católica ou frequente a missa dominical, tenho o costume de ir à igreja quando ela está vazia, sentar e conversar com Deus. Faço isso desde a época do colégio de freiras, quando era obrigada a assistir às missas todo santo dia! Sem trocadilhos. Era um martírio para uma garota de 7 anos, mais moleque do que menina, ficar sentada uma hora inteira, sem dar um pio. Então, baseada na incapacidade de mexer um músculo, desenvolvi o hábito de conversar com Ele, bater altos papos, até cansar. De lá pra cá, seja num momento muito triste, só pra chorar, ou emocionada de alegria, sento no banco de uma igreja e penso, converso, resolvo. Aquele cheiro de antigo, o eco, o barulho dos bancos, as velas, tudo me é familiar. E me sinto em casa. Fico confortável, como um sapato velho que cai bem no pé. Sensação gostosa.

E, por mais que eu tente fugir da religião, fui criada em uma casa de vila, de frente para um terreno. Nesse terreno, havia uma casa muito velha, mas muito velha mesmo. E um dia, resolveram instalar lá uma igrejinha para Clara. Quase uma capelinha. E Clara tornou-se minha amiga. Sentava  nos bancos de sua casa e falava, falava. E Clara sempre linda, me ouvindo, impávida. Rosto de mãe que tudo entende e perdoa. Sempre que tenho um aperto, um pedido, faço a ela, minha cara e quase imediatamente sou atendida. E quando não sou, entendo. Até Clara tem seus limites.

Dia desses, uma amiga estava pra ter filho, uma menina. Problema. Fui até a casa da minha mãe almoçar e me deu uma vontade louca de conversar. Atravessei a rua e lá estava a sua casa reformada, pintura linda, obra de duas irmãzinhas que dormiram no chão para dar o presente à amiga. Ficou tão lindo. Pedi pra Clara ajudar a pequenina. Meia hora depois sua bolsa rompeu e a menininha veio pra vida. O cordão tinha um problema e ela não ganhava peso. Precisou vir ao mundo pra ficar forte, sadia.

Clara é assim, não faz barulho mas sempre clareia minha vida. É um alívio contar com ela, sempre. Minha Santa, obrigada. Salve Santa Clara, minha amiga. 


P.S. Clara, obrigada!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Confesso que vivi...esperando por isso

Há tempos queria fazer algo para meus pais, principalmente depois de me mudar para tão longe. A distância estava me deixando triste por vê-los tristes e isso não me fazia bem. Minha primeira ideia foi dar um computador, logo em janeiro passado, mas eles dois têm uma resistência danada para o novo. Esqueci. Pensei num carrochinho, mas meu pai, com sua delicadeza lusitana foi logo dizendo: nem me apareça com isso aqui! Logo, esqueci também, pensando no que o bichinho sofreria e meus pais também J Depois, pensei numa viagem, mas seria uma solução passageira e meu pai mais uma vez abortaria. Tentei levá-los a restaurantes, principalmente ao português, paixão do pai. Nada, nem aceitou meu convite. Difícil...

A máquina que daríamos pifou. Parecia mais um sinal para não me aventurar a levar mais um bronca. Meu genro que não desiste de nada, principalmente de economizar, pegou o lap pifado e levou pra casa: em uma semana eu arrumo. E arrumou. Domingo passado, levei a máquina e meu medo para a casa dos pais. Que aflição: todo mundo falando que não daria certo, que detestariam, que não usariam. Pra minha surpresa e alegria, receberam tão bem, mas tão bem, que enquanto saia com Eme para comprar o modem, Bé ensinou pra minha mãe a digitar um texto no Word! Hahaha... Mal chegamos com o modem, já entramos no Google Maps e meu pai pode ver suas terras no Marnel, Lamas do Vouga, em Portugal. Vi que ficou contente. E eu, mais feliz ainda. Deixei Isabella por lá por uns dois dias para ensiná-los, já que ela não tinha aula, mas não muito otimista.

Hoje, ligo para eles e descubro que minha mãe não estava. Novidade, a velha gosta de bater uma perninha! Depois de uma hora, ela me liga já em casa: fui na escola, filha, lá na avenida. Que escola, mãe? Fazer o quê? Na escola de computação! Eu e minha amiga Alice vamos nos matricular. Era um plano antigo, só faltava o computador! Hahahaha, alguém pode imaginar minha alegria?!

Só pra esclarecer, minha mãe não aprendeu a dirigir porque sempre disse que não tinha capacidade para tanto, nunca tocou num computador ou fez uma transação bancária na vida. Meu pai quem dirige e cuida dos pagamentos. Sempre foi dona de casa, cuidou dos filhos, netos e marido a vida toda. Embora tenha um potencial incrível, boicotou-se por décadas! Agora, numa atitude corajosa para uma mulher de quase 70 anos, resolveu ir à luta. Estou tão orgulhosa dela. E dele também, que não disse não.

Aos meus pais, meus heróis, dedido este post. Eu os amo e tenho muito orgulho de vocês. Obrigada por tudo!

P.S. Bill Gates que se cuide: aí vem Dona Dalva hahaha

Albertina e sua foto

Levei um tempão procurando uma foto da Tia Albertina comigo para publicar com a crônica que escrevi para ela aqui. Não encontrei. Ontem, revirando o baú de fotos antigas dos meus pais, encontrei esta, com minha prima irmã, Nanda. Tudo bem, não sou eu, mas a atriz principal tá ai: Albertina, a tia!
Tia, nem preciso dizer mais nada...



P.S. Se algum dos primos tiver fotos da Tia comigo ou só, me mandem.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pic Nic

Minha avó Dulce não era uma exímia cozinheira, aliás, mal posso chamá-la de cozinheira. Era uma mulher à frente do seu tempo: em princípios do século XX, gostava é de trabalhar fora. E não era um fora qualquer, era em suas terras mesmo. Mulher valente, com menos de 1,45 de altura, se transformava em um trator em força e agilidade. Só que meu avô sofria muito com isso... não fosse pela bisa Luíza, eles não comeriam naquela casa. A verdade é que a avó detestava a cozinha e principalmente, de cuidar da casa. Então tudo o que ela fazia, ficava mais ou menos.

Dentre as pouquíssimas coisas que ela cozinhava bem, estavam a broa de milho, que ela mesma amassava (com minha ajuda quando lá passei algum tempo) e um frango ensopado absurdamente bom. E é desse frango que quero falar...

Numa ocasião em que lá estivemos, visitamos vários lugares de Portugal: Fátima, Nazaré, Bragança, Barcelos, Guimarães, Lisboa, Coimbra, dentre tantas cidades. Portugal é um país muito pequeno, então em pouco tempo, visita-se quase todo ele. Foi em Coimbra, que visitamos uma igreja muito antiga e próxima dela, fizemos um piquenique delicioso, que jamais vou esquecer. A paisagem era típica européia: um riacho correndo, muito verde e a igreja, muito antiga, mas muito bem conservada, um pouco mais acima do local onde sentamos para comer. Cada mulher da família preparou um prato e a avó, o famoso frango ensopado. Confesso que nunca mais experimentei nada igual, embora procure em todos os frangos que como, o sabor único e exclusivo daqueles temperos suaves, do molho denso e marrom dourado, a broa mergulhando nele e sendo devorada pelos famintos seres pertencentes àquele clã.

Sinto o sabor e o perfume daquele ensopado até hoje e ainda hoje, ao escrever este texto, minha boca enche-se d’água. E meu coração bate mais forte, todas as sensações voltam como se estivesse naquele campo novamente, sentindo o ar frio de uma manhã de verão batendo no meu rosto. E aquele sentimento de conforto que uma comida caseira traz me invade e me aconchega. E a presença da avó me acompanha e me emociona. Eu não a tive todo o tempo comigo, a distância nos afastava, mas os momentos que vivemos juntas me marcaram profundamente. À ela, Dulce, dedico este texto, com todo o amor que uma neta pode ter por sua avó. Te amo, vó, onde quer que você esteja !

P.S. Na foto: Dulce e Valdemiro, meu pai Fernando e minha tia Alcinda

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Aletria...

Aletria é um doce típico português, cuja preparação não varia muito. Encontrei a receita abaixo no Dr Google, no site Doces Regionais e foi a que mais me remeteu à minha infância. Aletria era um doce de festa, que minha tia Cinda fazia com perfeição. Minha mãe, pobre, não conseguia acertar o ponto. Sim, o doce tem um ponto certo e se passar, fica um horror. É basicamente macarrão cabelo de anjo com ovos – claro que tem que ter as gemas, afinal, é um doce português – e açúcar, açúcar demais pro meu gosto. Mas é algo que todas as vezes que vejo, enlouqueço! Tem a capacidade de me tirar do sério, seja porque me remete a um período muito feliz da minha vida, seja pelo prazer de provar um manjar dos deuses. É o doce mais gostoso do mundo!
Todas as vezes que a tia preparava aletria, sempre terminava com travessas a menos. Eu era a rainha de revirar as panelas e comer uma travessa inteira, mesmo quente, escondida de todos. Doce travessura, que me rendeu alguns cascudos, mas também, momentos de puro deleite.
Aletria me lembra vó Dulce, amada avó, minha querida tia, meu amado tio Noel, pai, mãe, irmã e primos. Era um doce que unia a família, era na verdade, da família. Lembro que pequena achava que a tia tinha criado a aletria e só nós a conhecíamos, assim como os rijões e outras gostosuras lusitanas, tal a importância dele em nossas vidas. Doce ilusão.
Ainda hoje, me transformo em criança ao saber que a aletria estará à mesa e me transporto. Viro uma guriazinha de uns 6 anos, toda lambuzada do creme dourado e canela, saindo de trás das cortinas, feliz, feliz da vida!
ALETRIA
Ingredientes:
          200 grs de aletria
          7,5 dl de leite
          300 grs de açúcar
          5 gemas
          150 grs de manteiga s/ sal
          casca de limão SICILIANO
Ferva a aletria com o leite, o açúcar, a casca de limão e a manteiga. Mantenha no lume até que a aletria tenha absorvido todo o leite. Junte então 5 gemas bem batidas, mexendo até estarem cozidas.
Ponha numa travessa e tire a casca do limão. Polvilhe com canela em pó.


P.S. A tia fazia esses desenhos, se chegasse antes de mim J