Tia Albertina foi daquelas tias que nunca se esquece. Doce, generosa, suave. A tia era gordinha e dizia que seu peito era um travesseirinho no qual eu podia me encostar e dormir. E eu dormia. Tia Albertina era gaúcha, de Porto Alegre, da Avenida Borges de Medeiros. Era modista, com ateliê e tudo. Costurava para as socialites da época, para as mulheres de políticos, para a primeira dama da capital. Tinha uma vida ótima quando conheceu tio Celso, o irmão da minha avó, que era cheio de manias. Eles se encontraram já mais tarde na vida, na fase mais madura. E se amavam demais, ao modo deles, mas se amavam muito. Vi tio Celso umas duas vezes na vida, mas a tia vinha todos os anos pra São Paulo, às vezes em duas ou três oportunidades. E eu esperava tanto por essas suas vindas... Ela era apaixonada por criança, especialmente por nós, os sobrinhos postiços. Nunca soube quem não podia ter filhos, não sei quais os motivos e não importa. Queria ser sua filha, na verdade. Pensava, na época, que ela bem que podia me adotar :). Ela costurava muito e pra todos nós, especialmente quando éramos pequenos. E bordava demais! Era uma coisa, nunca vi nada igual. Lembro de várias roupinhas e especialmente uma blusinha rosa de linha com ponto tricô, que ela bordou com flores e linhas de seda e pérolas maravilhosas. Pena que minha mãe não seja afeita a acumular e não pude manter essas preciosidades comigo. Mas a lembrança de seu cuidadoso ponto, de seu capricho estão aqui comigo. Lembro do perfume de Tia Albertina: Fleur de Rocaille, de Caron. Procurei muito por ele e só recentemente o encontrei na Sack’s, uma perfumaria online. Uma pena, mas aparentemente o perfume mudou um pouco; mesmo assim ainda lembra um pouquinho Tia Albertina. Meus vestidos de formatura foram feitos por ela, um branco e um rosa, claro que bordados. O som de sua voz e a sutileza de seus conselhos, a suavidade, a delicadeza. Ela comia como uma rainha e eu a imitava. Acho que meus modos hoje são fruto de minha imitação, de minha tia. E adorava viajar, rodava o mundo todo, mesmo e especialmente depois que tio Celso morreu. Tinha muitas amigas e com elas viveu o que sempre quis. Mesmo tarde na vida, não deixou de viajar, de fazer plástica, de se vestir bem. Era uma tremenda mulher. Eu a amava demais e ainda amo.
A vida foi nos afastando e a cada vez, a via menos. Já com muita idade, não viajava tanto. Sinto não ter me despedido; mesmo assim, não sinto que ela partiu. Ainda posso sentir seu peito fofinho, minha cabeça recostando nele e o sono vindo. Ouça-a me chamando de guria e dizendo que eu era atrevida, com uma gostosa gargalhada. E eu era mesmo!
Fico imaginando se meus sobrinhos e sobrinhas se lembrarão desta tia aqui com alguma saudade, nostálgicos como eu por essa minha Albertina tão especial. Difícil. Os tempos são outros e não consigo me dedicar a eles como ela se dedicou a nós. Mas bem que gostaria...
P.S. Aprendi a cortar azeitona no prato com ela, motivo de chacota até hoje !
Que lindo esse texto Dul, fiquei realmente emocionada pois a minha tia Cássia é exatamente isso...
ResponderExcluirBeijos,
Pat.
Pat, que bom que você gostou. Na verdade, este texto é uma homenagem a todas as Albertinas que existiram e ainda existem pelo mundo, que ajudaram a formar nosso caráter e conduta. Cada um de nós teve uma tia/o assim, que nos remete à nossa infância e juventude. À elas, dedido este texto.
ResponderExcluirUm grande beijo,
Du