sábado, 19 de novembro de 2011

De repente

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes


Peguei emprestado o Soneto da Separação do “Poetinha” porque nada mais caberia aqui do que um ‘de repente’, uma separação. Se você busca ler algo leve e divertido, saia daqui agora. Não é sobre o amor ou a diversão que preciso falar. Preciso colocar pra fora essa angústia que me cercou e me tira o sono e me dói o peito. Essa separação de mentes, de alma, de suor diário, de dever cumprido.

De repente, tudo aquilo que você tem de mais sólido vira ruína, cai como uma implosão, desmorona. Uma sensação de fracasso, de decepção vira rotina. De repente, seu dia não é mais o que tem sido e tudo o que você constrói vira pó, areia que você não consegue segurar entre as mãos, esvai-se entre dedos. De repente, tudo o que você acredita, não existe mais e o que fica é um gosto amargo de derrota.

De repente, seu dia tem 48 horas e não mais 12 e o relógio bate e não sai do lugar. De repente, andar pelas ruas e prestar atenção às pessoas e lugares é uma distração e não mais uma necessidade de correr contra o tempo. De repente, preciso lembrar de respirar, o que antes era automático. 

Mas isso tudo não me derrota, já superei o inimaginável e sai fortalecida. Não é qualquer vento que me quebra, que me derruba. Sou galho verde, que enverga mas volta ao lugar, mais forte do que nunca. Vai precisar muito mais, mas muito mesmo pra tirar minha vontade de viver, de felicidade e de alegria.

De repente, eu volto, não mais que de repente...

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