quarta-feira, 27 de julho de 2011

Nigella Lawson, Jamie Oliver ou Annabel Langbein ?


Sempre gostei de cozinhar, mas custei a aprender. Isso não me impediu de tentar. Lembro de ficar horas às voltas com uma tábua e uma faca, picando tudo miudinho na cozinha do sítio da Tia Cinda. Era pra isso que me usavam antes de aprender cozinhar. Era muito boa nisso, e ainda sou, com uma técnica mais aperfeiçoada. Tanto, que reclamam que pico demais os alimentos, coisa que tento me policiar. Nessas minhas tentativas culinárias ou desastres, melhor dizendo, lembro especialmente de uma experiência na casa de meus pais nos anos 80. Não lembro porque encasquetei de fazer macarrão com frango num domingo qualquer (esse filme é ótimo, especialmente o discurso do Al Pacino - assistam) na casa da minha mãe. Mas não era um frango ou um macarrão da mama. Devo ter encontrado a receita no jornal ou no pacotinho da sopa de cebola, tão hip na época. Era um macarrão à romanesca (esse, uma tentativa de imitação da LOsteria del Piero, que adorava) e um frango com maionese com a tal sopa de cebola. O problema é que o frango era assado e o molho do macarrão, branco. Qualquer pessoa sabe que frango tem que ser muito bem cozido, caso contrário, fica rosa por dentro, intragável e perigoso e que o macarrão com um molho assim, precisa ser feito e servido na mesma hora. Bom, a festa era grande porque era a primeira vez que assumia a cozinha da minha mãe em um domingo, coisa quase improvável para quem conhece D.Dalva ! E meu marketing foi de arrasar e a expectativa muuuuito grande (confesso que minha irmã ficou desconfiadíssima, na porta da cozinha de braços cruzados, me olhando de lado e não acreditando. Lembro até da roupa dela) . Quando servi tudo, com uma mesa linda de morrer, parecia que estava no Que Marrravilha do Claude Troisgros aguardando receber uma nota, suando como um cavalo após a corrida em dia de Derby. Só que ninguém conseguiu comer: pra começar, acho que não mexi o macarrão ao colocá-lo na água e quando tentava colocar no prato, ele vinha como um bloco. Ai! O frango, ah o frango... acho que os pedaços eram muito grandes e o tempo assando completamente insuficiente, porque ao tentar cortá-lo o galo cacarejava J Meu pobre pai, vendo meu sofrimento e derrota completa, comeu. Coitado, que perigo! Hoje, lembrando da cena, choro de rir. Na época, chorei de verdade, tamanha a humilhação. Depois desse dia, não me aventurei mais na cozinha até precisar fazê-lo novamente, depois de casada. Só quando sai das barras da saia da mãe e da ex-sogra, que cozinhavam maravilhosamente bem, resolvi tentar novamente. Como sempre gostei muito de ler, comprava todas as coleções de culinária conhecidas, enciclopédias, revistas e livros. E comecei a ler e tentar cozinhar. Com o que aprendi com minha ex-sogra e nos livros principalmente, me aventurei nas coisas mais básicas e mais tarde, nas não tão básicas assim.

A vida na cozinha é feita de fases: houve uma época que minha torta de limão e a torta mousse de chocolate (que tirei da embalagem do chocolate meio amargo da Garoto) eram famosas. Minhas quiches também. Depois acho que perdi um pouco a mão para os doces. Meus bolos nem sempre são bons, mas gosto, por exemplo, do meu crème brûlée, da mousse de chocolate e tiramissú. Hoje faço poucas coisas, mas bem. No entanto, a apresentação sempre foi fundamental pra mim. Gosto das louças e taças, de caprichar no visual, de colocar uma mesa linda, de receber bem (já fui muito criticada por isso; hoje, acho que as pessoas percebem isso como carinho e não uma coisa esnobe), das minhas tralhas de cozinha, que são inúmeras.
Contei tudo isso pra chegar onde quero finalmente: o título do post. Embora tenha aprendido com minha mãe, tia e sogra, hoje sou uma cozinheira melhor por conta de Jamie, Nigella e mais recentemente, Annabel, uma neozelandesa, que como ela mesma diz, mora num pedacinho do paraíso - paradise's corner e planta tudo o que consome.

Fonte: Annabel Langbein website

Aprendi que para cozinhar bem, não é preciso ter ingredientes caros e raros, mas sim os mais frescos que você puder conseguir na sua região. Aproveitar os produtos de época, que estão disponíveis e baratos nas feiras e hortifrutis. E principalmente, aproveitar o que está em sua geladeira e dispensa nos momentos express. Isso, Nigella também me ensinou. Com Jamie, aprendi a cortar e picar e se hoje não sou tão hábil com a faca como ele, é por pura falta de coordenação motora. Mas sou bem melhor do que era no passado. Observar e anotar as inúmeras dicas desses profissionais é a chave. E ver os programas e gravá-los para assistir num momento de puro relax, também. Tenho toda a série da Annabel gravada e não deixo ninguém apagar, assim como Refeições de Jamie em 30 minutos e episódios da Nigella, com algum prato que quero repetir.

Cozinhar é prazer. Fuja da cozinha se a vibe não for boa, se estiver irritada! Talvez por isso nossas avós enxotassem as mulheres menstruadas para fora da cozinha, dizendo que “as regras” faziam o molho desandar. Lembro da minha bisa italiana – a nona da Mooca – falando isso. Menstruação, TPM, sabe como é... aqueles dias em que você pode matar alguém J, períodos que os maridos odeiam e que os filhos, confusos, batem cabeça procurando fugir de você, pobres. Portanto, se estiver na condição acima, peça para ir a um restaurante ou que alguém assuma seu lugar, porque o que fizer não ficará tão bom como em outro dia qualquer.

Cozinhar é terapia. Se for obrigação, você coloca sua frustração na preparação, e tal qual a irritação, afetará sua comida. Tenho certeza que os sentimentos passam para a comida, não como em Como Água para Chocolate (assistam, o filme é antigo, mas vale a pena pela cozinha de Tita), mas sim com a paixão e amor pelos alimentos. A preparação é muito mais prazerosa e o resultado final será muito melhor

Cozinhar é conforto. Escolha uma roupa que goste, confortável, que você se sinta bonita. Não precisa usar seus paetês, sua melhor calça jeans ou seu top de seda. Mas também não precisa usar o moletom velho, rasgado e sujo que você usa pra pintar aquele móvel que resolveu reformar. Aquela roupa que nem seu marido pode ver, que você precisa se trocar se precisar retirar na portaria do prédio uma encomenda. Aquela que você parece ser um morador de rua que não toma banho há séculos. Que se cachorro sai correndo pra se esconder quanto a vê. Não! Use uma roupa cool, que você se olhe no espelho e diga: ficou ótima. O mesmo capricho no preparo do alimento deve ser aplicado no seu visual. A apresentação do prato começa por você. Ao menos, penteie o cabelo J

E finalmente, cozinhar merece reconhecimento. E quem não gosta de ser reconhecida? Você vai gostar. E quanto mais for reconhecida, aplaudida, mais motivada se sentirá para tentar novamente e novamente e novamente.

Felizmente, o medo do meu macarrão com frango (até hoje sonho com ele, o frango correndo atrás de mim, tentando me pegar) J não me impediu de continuar tentando. E muito embora siga todas as recomendações acima, ainda hoje faço muita besteira. E algumas vezes, coisas muito boas. E sinto muito prazer em cozinhar para minhas filhas, para meu marido, que é meu maior incentivador, para a família e amigos. Fico ansiosa até hoje como naquele domingo do frango assassino, suando, preocupada em acertar. É sempre um desafio pra mim. E sempre um prazer. E se não for assim, não vale...

Beijos

P.S. “Gastronomia é comer olhando pro céu.” Millôr Fernandes

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