quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pic Nic

Minha avó Dulce não era uma exímia cozinheira, aliás, mal posso chamá-la de cozinheira. Era uma mulher à frente do seu tempo: em princípios do século XX, gostava é de trabalhar fora. E não era um fora qualquer, era em suas terras mesmo. Mulher valente, com menos de 1,45 de altura, se transformava em um trator em força e agilidade. Só que meu avô sofria muito com isso... não fosse pela bisa Luíza, eles não comeriam naquela casa. A verdade é que a avó detestava a cozinha e principalmente, de cuidar da casa. Então tudo o que ela fazia, ficava mais ou menos.

Dentre as pouquíssimas coisas que ela cozinhava bem, estavam a broa de milho, que ela mesma amassava (com minha ajuda quando lá passei algum tempo) e um frango ensopado absurdamente bom. E é desse frango que quero falar...

Numa ocasião em que lá estivemos, visitamos vários lugares de Portugal: Fátima, Nazaré, Bragança, Barcelos, Guimarães, Lisboa, Coimbra, dentre tantas cidades. Portugal é um país muito pequeno, então em pouco tempo, visita-se quase todo ele. Foi em Coimbra, que visitamos uma igreja muito antiga e próxima dela, fizemos um piquenique delicioso, que jamais vou esquecer. A paisagem era típica européia: um riacho correndo, muito verde e a igreja, muito antiga, mas muito bem conservada, um pouco mais acima do local onde sentamos para comer. Cada mulher da família preparou um prato e a avó, o famoso frango ensopado. Confesso que nunca mais experimentei nada igual, embora procure em todos os frangos que como, o sabor único e exclusivo daqueles temperos suaves, do molho denso e marrom dourado, a broa mergulhando nele e sendo devorada pelos famintos seres pertencentes àquele clã.

Sinto o sabor e o perfume daquele ensopado até hoje e ainda hoje, ao escrever este texto, minha boca enche-se d’água. E meu coração bate mais forte, todas as sensações voltam como se estivesse naquele campo novamente, sentindo o ar frio de uma manhã de verão batendo no meu rosto. E aquele sentimento de conforto que uma comida caseira traz me invade e me aconchega. E a presença da avó me acompanha e me emociona. Eu não a tive todo o tempo comigo, a distância nos afastava, mas os momentos que vivemos juntas me marcaram profundamente. À ela, Dulce, dedico este texto, com todo o amor que uma neta pode ter por sua avó. Te amo, vó, onde quer que você esteja !

P.S. Na foto: Dulce e Valdemiro, meu pai Fernando e minha tia Alcinda

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