segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Clara clareou

Embora eu não seja católica ou frequente a missa dominical, tenho o costume de ir à igreja quando ela está vazia, sentar e conversar com Deus. Faço isso desde a época do colégio de freiras, quando era obrigada a assistir às missas todo santo dia! Sem trocadilhos. Era um martírio para uma garota de 7 anos, mais moleque do que menina, ficar sentada uma hora inteira, sem dar um pio. Então, baseada na incapacidade de mexer um músculo, desenvolvi o hábito de conversar com Ele, bater altos papos, até cansar. De lá pra cá, seja num momento muito triste, só pra chorar, ou emocionada de alegria, sento no banco de uma igreja e penso, converso, resolvo. Aquele cheiro de antigo, o eco, o barulho dos bancos, as velas, tudo me é familiar. E me sinto em casa. Fico confortável, como um sapato velho que cai bem no pé. Sensação gostosa.

E, por mais que eu tente fugir da religião, fui criada em uma casa de vila, de frente para um terreno. Nesse terreno, havia uma casa muito velha, mas muito velha mesmo. E um dia, resolveram instalar lá uma igrejinha para Clara. Quase uma capelinha. E Clara tornou-se minha amiga. Sentava  nos bancos de sua casa e falava, falava. E Clara sempre linda, me ouvindo, impávida. Rosto de mãe que tudo entende e perdoa. Sempre que tenho um aperto, um pedido, faço a ela, minha cara e quase imediatamente sou atendida. E quando não sou, entendo. Até Clara tem seus limites.

Dia desses, uma amiga estava pra ter filho, uma menina. Problema. Fui até a casa da minha mãe almoçar e me deu uma vontade louca de conversar. Atravessei a rua e lá estava a sua casa reformada, pintura linda, obra de duas irmãzinhas que dormiram no chão para dar o presente à amiga. Ficou tão lindo. Pedi pra Clara ajudar a pequenina. Meia hora depois sua bolsa rompeu e a menininha veio pra vida. O cordão tinha um problema e ela não ganhava peso. Precisou vir ao mundo pra ficar forte, sadia.

Clara é assim, não faz barulho mas sempre clareia minha vida. É um alívio contar com ela, sempre. Minha Santa, obrigada. Salve Santa Clara, minha amiga. 


P.S. Clara, obrigada!

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